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O Pan na Record: ótimo, só que ao contrário

22 out

por Sheila Vieira

Reclamar das transmissões da Globo é como falar mal da comida da sua mãe: quando você não tiver, vai sentir falta. Essa é a sensação da maioria das pessoas ao assistir ao Pan-americano de Guadalajara pela Record neste ano. Porém, antes de ficarmos saudosistas e colocarmos #VoltaGalvão nos Trending Topics, vamos pensar um pouco no que exatamente nos incomoda.

Narradores que gritam descontroladamente

Ninguém quer um narrador de velório numa transmissão, afinal, esporte é algo que lida com torcida, um certo orgulho nacional e histórias de superação. Mas, como toda boa narrativa que se preze, há momentos mais calmos e o clímax. 

Não há razão para manter um ápice em todos os segundos de uma partida por um motivo bem claro: telespectadores não são burros e sabem quando se está forçando a barra. O narrador deve economizar o grito para momentos realmente marcantes. Um belo exemplo é o “Olha a Jamanta” de Everaldo Marques na NFL: 

Tive o privilégio de ver isso ao vivo. 

Repórteres inconvenientes de zona mista

Atletas dando entrevista logo após uma partida ou prova servem apenas para uma coisa: provocar frases bizarras e sem nenhum sentido. O que é muito compreensível. Tente fazer um esforço físico descomunal e em seguida discorrer sobre o realismo mágico. Não rola. Mesmo assim, eles param, tentam formular frases que façam sentido e sorrir. Até que o repórter começa a fazer um TALK-SHOW no meio da zona mista. Veja (a partir de 2min e 20s): 

 

A repórter Adriana Araújo também, digamos, foi bem animada ao lado de Thiago Pereira. Não achei o vídeo, mas encontrei o relato do blog UOL Esporte Vê TV:  

“Ele me deu um abraço molhado e dourado depois que ganhou o primeiro ouro do Brasil no Pan. Mas ontem ele ganhou outra medalha e nós não vimos ele no pódio. Eu quero te pedir outro abraço hoje à noite. Vamos combinar um abraço depois que você sair da piscina?”, perguntou Adriana, que recebeu um discreto “beleza, fechado” do atleta.

Beleza, fechado. 

Não vejo problemas em ser informal, mas tudo tem seu tempo. Se você quer mostrar um lado diferente e mais descontraído dos atletas, tente puxar um assunto diferente numa entrevista coletiva (no final) ou exclusiva, quando a adrenalina da competição já passou. Mas, PELAMORDEDEUS, nunca pegue os braços de um nadador que acabou de sair da piscina e puxe-os para cima. Isso é tão sem noção quanto o atleta tomar seu microfone e tacar na piscina. 

Reportagens melodramáticas

Usar uma narrativa menos robotizada numa reportagem é ótimo, refrescante, chama a atenção. Mas saiba escolher suas referências. A matéria no dia seguinte da lesão da Jaqueline, por exemplo, me lembrou aqueles episódios pós-acidente com amnésia das novelas da Thalia. 

O caso Leonardo de Deus (que ganhou o ouro, foi desclassificado por uma suposta irregularidade na touca e teve o resultado devolvido) foi contado no dia seguinte pelo programa “Hoje em Dia” como um filme de suspense: quem estava vendo pela primeira vez o ocorrido descobriu que ele realmente ficou com o ouro só no final. Desnê, para dizer o mínimo. 

Agora vamos pensar em quais dessas coisas nós vemos também na Globo: 

– narradores gritando descontroladamente: o Galvão é irritante, mas sabe ficar quieto na hora certa, afinal, a voz dele não aguenta mais tanto.

– repórteres inconvenientes na zona mista: nope. Você pode odiar o quanto a Globo monopoliza as transmissões, defende a CBF, não investiga certas coisas, mas não pode negar um fato: os repórteres de lá são BONS. Eles entendem do esporte, têm experiência e sabem dosar o sério e o trivial.

– reportagens melodramáticas: hum… não mais. Agora a Globo investe mais em reportagens mais ligadas ao humor.

No ano que vem, teremos as Olimpíadas na Record, no Sportv e na ESPN. Qual canal você escolherá?